domingo, 24 de setembro de 2023
Lendo antes que acabe...
domingo, 17 de setembro de 2023
Trabalho e Cansaço
Acordo no meio da madrugada e quase que automaticamente penso nos prazos estourando e na (im)possibilidade de cumprir as metas, seja por cansaço ou falta de método.
No jornal uma reportagem sobre a (utópica.?) separação entre vida pessoal e trabalho parece um conto de ficção. Ultimamente não consigo 'desligar', e as lições todas de Domenico De Masi - aliás falecido nesta semana, me parecem impraticáveis.
Sim, bem sei que o problema não é o trabalho. Enquanto não resolver certas 'questões' o corpo vai reclamar. Enquanto não decidir como e com o que viver, o que e com quem repartir, não estarei vivo. O que fazer.?
quinta-feira, 7 de setembro de 2023
Um poema e tanto.
Next, please
Always too eager for
the future, we
Pick up bad habits of
expectancy.
Something is always
approaching; every day
Till then we say,
Watching from a bluff
the tiny, clear,
Sparkling armada of
promises draw near.
How slow they are!
And how much time they waste,
Refusing to make
haste!
Yet still they leave
us holding wretched stalks
Of disappointment,
for, though nothing balks
Each big approach,
leaning with brasswork prinked,
Each rope distinct,
Flagged, and the
figurehead with golden tits
Arching out way, it
never anchors; it’s
No sooner present
than it turns to past.
Right to the last
We think each one
will heave to and unload
All good into our
lives, all we are owed
For waiting so
devoutly and so long.
But we are wrong:
Only one ship is
seeking us, a black –
Sailed unfamiliar,
towing at her back
A huge and birdless
silence. In her wake
No waters breed or break.
16 January 1951
In: “The Less
Deceived” (1955)
Barco verde e pássaro
(Helga Balaban:
artista búlgara)
O próximo, por favor
Sempre ansiosos
demais quanto ao futuro,
Adquirimos maus
hábitos acerca das expectativas.
Algo sempre está a se
aproximar; a cada dia
Dizemos até então,
Observando de um rochedo
a diminuta, nítida
E cintilante armada
de promessas que se aproxima.
Quão lentas são elas!
E quanto tempo perdem,
Recusando-se a se
apressar!
No entanto, ainda nos
deixam a segurar amargas hastes
De decepção, pois,
embora nada se oponha a cada
Grande aproximação, adernado
com brônzeos arreios,
Cada amarrilho em
particular,
Com seu pendão, e a
carranca com tetas douradas,
Arqueando-se para
fora, jamais ancoram;
Tão logo presentes,
já se tornaram passado.
Até o último momento,
Cremos que vão
aportar e descarregar tudo de bom
Em nossas vidas, tudo
aquilo que se nos deve
Por esperarmos com
tanta devoção e por tanto tempo.
Mas estamos
equivocados:
Apenas um navio está
a nossa procura, um negro –
Pouco versado em
navegar, trazendo a reboque
Um silêncio imenso e
sem pássaros. Em seu curso,
Não se produzem nem se rompem vagas.
Referência:
LARKIN, Philip. Next, please. In: __________. Collected poems. Edited with na introduction by Anthony Thwaite. First American printing. New York, NY: Farrar, Straus and Giroux; The Marvell Press, 1989. p. 52.
domingo, 3 de setembro de 2023
Lendo, de novo, os poemas de Wislawa Szymborska, peta polonesa ganhadora do Nobel de 1996, que faleceu em 2012, aos 88 anos.
Foi funcionária pública e também trabalhou como secretária e editora de uma revista educativa, atuando como ilustradora. Num primeiro momento, aproximou-se da filosofia socialista e tornou-se membro do Partido dos Trabalhadores Poloneses, como a maioria dos intelectuais da época. Em 1954, sua segunda coletânea de poemas exaltou esse pensamento. Mas, na terceira coleção de poemas, publicada em 1957, revelou a desilusão e a insatisfação pela ideologia, transparecendo o desencantamento nos seus poemas.
De tudo um pouco, da filosofia à vida cotidiana, um olhar diferenciado, distinto... De um quadro no museu a um gato abandonado, das tragédias do século à fragilidade da vida, da indiferença do universo com a espécie humana à receita de como escrever um currículo, todos os temas atravessados por um certa ironia.
Adorei ler "A mulher de Lot", sobre a destruição de Sodoma e Gomorra. Na Bíblia, essa personagem deve uma ou duas linhas, mas aqui ot" reto- ma a história bíblica da destruição de Sodoma. A mulher de Lot, a quem a Bíblia dedica apenas uma ou duas linhas, dizendo que ela se voltou para a cidade e foi transformada numa estátua de sal, como fosse símbolo da curiosidade feminina, aqui explica as suas razões, muitas e talvez banais, como são as ações humanas.
São Paulo, julho/agosto 2023.
sábado, 2 de setembro de 2023
Lendo Alberto Manguel ('Encaixotando minha biblioteca'), reflito... a boa escrita supõe dificuldades?
Ou: o sofrimento produz boa arte?
Diz ele que é somente um estereótipo: o escritor faminto à luz de velas não produz, só por esta circunstância, uma obra de qualidade. E que essa crença supõe, por exemplo, que a arte nos faz infelizes. Por exemplo, no livro 'Admirável Mundo Novo', de Aldous Huxley, o Administrador justifica sucintamente a decisão de eliminar a arte da sociedade humana, afirmando que "Este é o preço que devemos pagar pela estabilidade. Temos de escolher entre a felicidade e o que as pessoas costumavam chamar de arte superior. Sacrificamos a arte superior".
De seu lado, os gregos viam a arte e o comércio como incompatíveis: nenhuma das nove Musas se envolvia em transações comerciais, e os negócios no Olimpo eram deixados nas mãos de Hermes, o trapaceiro, deus dos mercados e ladrões, que era o mensageiro de outras divindades. Como os cavalheiros e as damas vitorianas, os deuses gregos não se rebaixavam para lidar diretamente com comerciantes.
Como muitas criações literárias que se iniciam como estalos de gênio e terminam como surrados clichês (por exemplo, Macbeth queixando-se do som e da fúria, Dom Quixote combatendo os moinhos de vento), a imagem do escritor confinado ao sótão foi apenas uma criação literária, nascida sem dúvida para descrever certo escritor em certo momento num poema ou romance há muito perdido.
Foi só isso.
São Paulo, 28 de agosto, 2023.